quinta-feira, 5 de junho de 2008

Técnicas de Lavagem Cerebral por Jânio Sarmento

Nas minhas andanças pela web, de vez em quando acabo encontrando umas coisas bem interessantes, como este documento: THE BATTLE FOR YOUR MIND por Dick Sutphen : Persuasion and Brainwashing Techniques Being Used on the Public Today (traduzindo livremente: A BATALHA PELA SUA MENTE: Técnicas de Persuasão e Lavagem Cerebral Usadas no Público Hoje).

Dei apenas uma passada de olhos no site do cara, e pelo que entendi ele é um destes novos gurus, que ganham dinheiro reprogramando a mente das pessoas.

Que fique bem claro que eu considero essa questão de (re)programação mental um fato que por si não é bom nem mau, apenas está aí o tempo todo. Sorte de quem tiver como agente de reprogramação (ou reparametração) alguém honesto e íntegro, capaz de respeitar a mente em reprogramação como sendo uma manifestação tão divina quanto ele próprio.

Voltando ao autor do texto: o trabalho dele é reprogramar mentes, mas nem por isso ele se furtou de denunciar os esquemas de lavagem cerebral que se utilizam hoje em dia para controlar as massas. Isso já seria suficiente para eu ter consideração pelo cara, pois ele demonstra que não só não teme que esse processo seja descoberto como deseja que isso ocorra. Desconfio que ele saiba de alguma coisa quanto à sua própria liberdade que será implicação da libertação de mais e mais mentes. Isso fica evidenciado no seguinte trecho: I’m Dick Sutphen and this tape is a studio-recorded, expanded version of a talk I delivered at the World Congress of Professional Hypnotists Convention in Las Vegas, Nevada. Although the tape carries a copyright to protect it from unlawful duplication for sale by other companies, in this case, I invite individuals to make copies and give them to friends or anyone in a position to communicate this information.

É interessante notar como este tipo de assunto é tratado com desdém pela grande mídia. Com o advento da Internet se popularizando fica mais fácil de iniciativas isoladas se firmarem, e principalmente de esforços que seriam insignificantes, como um artigo escrito e enviado para alguns conhecidos, acabarem ganhando uma expressão tímida, mas de alcance mundial.

Voltando ao assunto principal, Sutphen diz que o mais básico dos fatos sobre lavagem cerebral é que EM TODA A HISTÓRIA DO HOMEM, NINGUÉM SOFREU LAVAGEM CEREBRAL E COMPREENDEU, OU ACREDITOU, QUE TENHA SIDO ASSIM. Os “cérebros lavados” usualmente vão defender com paixão os seus manipulatores, dizendo que estes apenas “mostraram-lhes a luz”… ou atestando que se transformaram de maneira milagrosa.

O primeiro ponto que o autor cita no artigo é a Conversão. Segundo ele CONVERSÃO é uma palavra bacana para LAVAGEM CEREBRAL, e qualquer estudo de lavagem cerebral tem que começar com o renascentismo cristão na América do século XVIII. Aparentemente, Jonathan Edwards acidentalmente descobriu a técnica durante uma cruzada religiosa em 1735 em Northampton, Massachusetts. Ao induzir culpa e pânico, e elevando a tensão (pressão), os “pecadores” que freqüentavam suas reuniões se renderiam em completa submissão. Técnicamente, Edwards estava criando condições para “limpar os cérebros”, de tal forma que as mentes aceitassem nova programação. O problema é que as novas proposições eram negativas. Ele lhes diria “Você é um pecador! Seu destino é o inferno!”. Como resultado um cometeu suicídio, e outro tentou o mesmo. E os vizinhos dos conversos suicidas relataram que eles, também, foram afetados tão profundamente que, embora eles tivessem encontrado “salvação eterna” estariam obsediados por uma tentação diabólica para o resto de suas vidas.

É possível que muita gente que use este tipo de expediente nem se dê conta de que está usando uma técnica de lavagem cerebral. Edwards apenas tropeçou numa técnica que funcionou, e outros copiaram e copiam por mais de 200 anos. E quanto mais sofisticado nosso conhecimento e a tecnologia, mais efetiva a conversão.

Indo além, ele fala nas três fases do cérebro, citando os estudos do russo Pavlov (de quem todo mundo já ouviu falar), no início do Século XX. Se o prezado leitor não lembra, Pavlov foi o cara aquele que estudou os condicionamentos, e fazia experiências com os bichinhos que salivavam ao ouvir a campainha da comida, mas não ousavam comer porque sabiam que iam tomar porrada.
Pavlov identificou tês estados distintos e progressivos de inibição transmarginal. Primeiro vem a fase EQUIVALENTE, na qual o cérebro dá a mesma resposta tanto a estímulos fracos quanto fortes. A segunda é a fase PARADOXAL, na qual o cérebro responde mais ativamente a estímulos fracos do que aos fortes. E a terceira é a fase ULTRA-PARADOXAL, na qual as respostas condicionadas e os padrões de comportamento mudam de positivo a negativo e de negativo a positivo.

Com a progressão através de cada fase, o grau de conversão se torna mais efetivo e completo. Os caminhos para a conversão são muitos e variados, mas o primeiro passo para a lavagem cerebral política ou religiosa é trabalhar as emoções de um indivíduo ou grupo até que elas alcancem um nível anormal de raiva, medo, excitamento ou tensão nervosa.

O resultado progressivo dessa condição mental é dificultar o julgamento e aumentar a sugestionabilidade. Quanto mais esta condição possa ser mantida ou intensificada, mais ela se compõe. Uma vez que a catarse, ou a primeira fase cerebral, é alcançada, a subjugação mental completa se torna mais fácil. Programas mentais existentes podem ser substituídos opr novos padrões de pensamento ou comportamento.

Outras armas fisiológicas muito usadas para modificar as funções cerebrais normais são as dietas rápidas, radicais ou de alto nível de açúcar, desconfortos físicos, controle da respiração, entoar de mantras em meditação, a revelação de mistérios terríveis, iluminação especial e efeitos sonoros, resposta programada ao incenso, ou intoxicação por drogas.

Os mesmos resultados podem ser obtidos em tratamentos psiquiátricos contemporânies aos tratamentos por eletrochoque e mesmo a diminuição proposital dos níveis de açúcar no sangue com injeções de insulina.

Seguindo no texto, Sutphen cita como trabalham os pregadores renascimentistas. Ele diz que se você quiser ver um pregador renascimentista agindo, provavelmente haverá diversos na sua cidade. Vá à igreja ou templo mais cedo e sente-se ao fundo, a cerca de três quartos da extensão do espaço às suas costas. Muito possivelmente uma música repetitiva estará tocando enquanto as pessoas entram para o serviço. Uma batida repetitiva, idealmente variando de 45 a 72 batidas por minuto (um ritmo próximo às batidas do coração humano), é muito hipnótica e pode causar um estado alterado de consciência com os olhos abertos numa alta percentagem de pessoas. E, uma vez que você esteja em estado Alfa, você estará pelo menos 25 vezes mais sugestionável do que seria em plena consciência beta. A música é provavelmente a mesma para todos os serviços, ou incorpora a mesma batida, e muitas das pessoas entrarão num estado alterado quase imediatamente após entrar no santuário. Subconscientemente, elas recobram seu estado mental da reunião anterior e respondem de acordo com a programação pós-hipnótica.

Observe as pessoas aguardado o início do serviço. Muitas exibirão sinais exteriores de transe — relaxamento corporal e olhos ligeiramente diilatados. Freqüentemente começam a oscilar para frente e para trás com as mãos no ar enquanto se mantêm sentadas em suas cadeiras. Em seguida, o pastor assistente provavelmente aparecerá. Ele comumente fala com uma “registro vocal” muito bom. (Nota mental: verificar a melhor tradução para “voice roll”.)

E isso leva ao próximo ponto: a técnica do “registro vocal”. Um “registro vocal” é um estilo pausado, padronizado, usado por hipnotizadores quando induzindo um transe. Também é usado por muitos advogados, diversos destes hipnotizadores altamente treinados, quando desejam incutir firmemente um ponto na mente dos jurados. Um registro vocal pode soar como se o orador estivesse falando sob a batida de um metrônomo, ou pode soar como se ele enfatizasse cada palavra num estilo monótono e padronizado. As palavras serão pronunciadas normalmente a uma razão de 45 a 60 batidas por minuto, maximizando o efeito hipnótico.

Agora o pastor assistente inicia o processo de “acumulação”. Ele induz um estado alterado de consciência e /ou começa a gerar excitação e expectativa na audiência. Em seguida, um grupo de jovens mulheres em vestidos de “doce e puro” chifon aparecem para entoar uma canção. Canções gospel são ótimas para gerar exitação e ENVOLVIMENTO. No meio da canção, uma das garotas pode ser “tocada pelo espírito”, e cair ou reagir como se possuída pelo Espírito Santo. Isso muito efetivamente intensifica os ânimos no salão. Neste ponto, hipnose e táticas de conversão estão sendo misturadas. E o resultado é que a atenção da audiência está totalmente focada na comunicação, enquanto o ambiente se torna mais excitante ou tenso.

No momento em que for alcançado o estado mendal alfa induzido na massa de olhos abertos, eles normalmente passarão o cesto de coleta. Ao fundo, um registro vocal de 45 batidas por minuto do orador assistente poderá exortar “Dê para Deus… Dê para Deus… Dê para Deus…” e a audiência dará. Deus pode nunca ter o dinheiro, mas seus “representantes” sim.

Depois, o pregador do fogo-e-ranger-de-dentes aparecerá. Ele induz medo e aumenta a tenção falando sobre “o diabo”, “ir para o inferno”, ou o Apocalipse vindouro.

Sutphen diz que no último “rally” desses a que foi, o pregador falou sobre o sangue que em breve estaria jorrando de cada torneira na terra. Também se obcecou com um “machado sangrento de Deus”, que todo mundo vira pairando sobre o púlpito na semana anterior. E Sutphen não duvida (nem eu) que todo mundo o viu mesmo — o poder de uma sugestão infligida a centenas de pessoas em hipnose garante que pelo menos de 10 a 25 por cento veriam qualquer coisa que lhes fosse sugerido ver.

Em muitos encontros renascentistas, os “testemunhos” normalmente seguem o sermão baseado em medo. Pessoas da platéia sobem ao palco e relatam suas histórias. “Eu era aleijado e agora posso andar!” “Eu tinha artrite, e agora ela se foi!” É uma manipulação psicológica que funciona. Após ouvir numerosos casos de curas milagrosas, o sujeito médio da platéia com um problema menor está certo de que pode se curar. A sala é carregada com medo, culpa, excitação intensa, e expectativas.

Agora aqueles que querem ser curados são freqüentemente alinhados junto aos limites da sala, ou são mandados que se apresentem em frente à platéia. O pregador pode então tocá-los na cabeça firmemente e gritar “seja curado!”. Isso libera a energia psíquica e, para muitos, resulta em catarse. Catarse é um “purgar” de emoções reprimidas. Os indivíduos podem chorar, cair ou mesmo serem acometidos de espasmos. E se a catarse for mesmo efetivada, ele tem uma chance de ser realmente curado. Na catarse (uma das três fases cerebrais mencionadas antes) a lousa cerebral é temporariamente apagada e novas sugestões podem ser aceitas.

Para alguns, a cura pode ser permanente. Para muitos, vai durar de quatro dias a uma semana, o que é, incidentalmente, o quanto uma sugestão hipnótica dada a um sujeito sonâmbulo vai normalmente durar. Mesmo que a cura não perdure, se eles voltarem toda semana o poder da sugestão pode continuamente sobrepor-se ao problema… ou algumas vezes, infelizmente, ele pode mascarar um problema físico que poderia mostrar-se muito prejudicial ao indivíduo no longo prazo.

Com isso não se diz que curas legítimas não ocorram. Elas ocorrem. Talvez o indivíduo estivesse pronto para livrar-se na negatividade que causava o problema em primeira instância; talvez o trabalho de Deus. Embora Sutphend prefira crer que isso pode ser explicado com o conhecimento existente das funções mentais/cerebrais.

As técnicas e estágios variam de igreja para igreja. Muitas costumam “falar em línguas” para gerar catarse em alguns enquanto o espetáculo cria intenso excitamento nos observadores.
O uso de técnicas hipnóticas por religiosos é sofisticada, e profissionais asseguram que elas estão se tornando ainda mais efetiva. Um cara em Los Angeles está projetando, construindo e retrabalhando inúmeras igrejas pelo país. Ele diz aos ministros o de que eles precisam e como usar. Os registros deste cara indicam que a congregação e a receita financeira dorabrão se o ministro seguir suas instruções. Ele admite que 80% dos seus esforços são em torno do sistema de som e iluminação.

Som poderoso e uso adequado da iluminação são de importância primordial na indução de um estado alterado de consciência — o próprio autor do artigo os usa há anos em seus próprios seminários. Entretanto, os seus participantes estão totalmente cientes do processo e do que eles podem esperar como resultado de sua participação.

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